Variedades de Café
Conheça as principais variedades de café e como cada uma contribui para perfis sensoriais únicos.
Diversidade Genética
O gênero Coffea, conhecido como o "gênero do café", contém mais de 120 espécies individuais. São geralmente arbustos ou pequenas árvores de sub-bosque com padrão de ramificação horizontal, folhas opostas e sempre-verdes. As sementes são planas de um lado e convexas do outro, com um sulco no lado plano.
Uma espécie é composta por indivíduos que podem se reproduzir entre si para produzir descendentes viáveis. Uma variedade botânica é um nível na hierarquia taxonômica abaixo da espécie e subespécie, com aparência distinta mas capaz de se hibridizar livremente com outras variedades.
Um cultivar é uma variante cultivada de uma espécie, originada através da influência humana. É um grupo sistemático de plantas cultivadas que é claramente distinto, uniforme e estável em suas características.
Um híbrido é o resultado do cruzamento entre duas plantas de diferentes espécies, variedades ou cultivares. No sentido mais estrito, considera-se híbrido apenas o cruzamento entre diferentes espécies.

Coffea Arabica
Originária das florestas da Etiópia, representa 60-70% da produção mundial. Cultivada em altitudes entre 600-2.000m, prefere temperaturas de 18-23°C. Apreciada por seu sabor suave e aroma complexo, mas mais suscetível a pragas e variações climáticas.
Bourbon
Cultivar que se desenvolveu naturalmente na Île Bourbon (atual Reunião) a partir de café trazido do Iêmen pelos franceses. Estas plantas têm folhas mais largas e frutos e sementes mais redondos que as variedades Typica.
Typica
O Coffea arabica, originário da Etiópia, foi primeiro transportado para o Iêmen. De lá, o que hoje chamamos de Typica veio de plantas levadas para Java e ilhas vizinhas, possivelmente pelos holandeses ou pelo lendário monge Baba Budan. Essas plantas foram espalhadas da ilha de Java no início dos anos 1700.
Mundo Novo
Cultivar selecionado de um cruzamento natural entre Sumatra (Typica) e Bourbon Vermelho no Brasil nos anos 1940 pelo IAC.
Caturra
Mutação natural do Bourbon descoberta no Brasil. Planta de porte baixo com internódios curtos, encontrada em 1937.
Catuaí
Cultivar desenvolvido pelo IAC no Brasil, originado do híbrido entre Mundo Novo e Caturra amarelo. Lançado em 1968.
Gesha/Geisha
Café selvagem da Etiópia, nomeado pela cidade de Gesha. Popularizado pela Hacienda La Esmeralda no Panamá.
SL28 e SL34
Variedades desenvolvidas pelos Scott Laboratories no Quênia. São a base dos famosos cafés quenianos e foram usadas no desenvolvimento do Batian.
Coffea Canephora (Robusta)
Originária da África Ocidental, representa 30-40% da produção mundial. Cultivada em altitudes mais baixas (200-800m), tolera temperaturas mais altas (24-30°C). Maior resistência a pragas, maior produtividade e teor de cafeína mais elevado. Sabor mais intenso e amargo, muito utilizada em blends e café solúvel.
Conilon
Principal variedade cultivada no Brasil, especialmente no Espírito Santo. Adaptada a climas quentes e úmidos. Representa a maior parte da produção brasileira de Robusta.
Nganda
Variedade tradicional de Uganda, uma das principais regiões produtoras de Robusta no mundo. Caracterizada por seu crescimento mais ereto.
Kouillou
Originária da África Ocidental, especialmente da região do Rio Kouillou. Adaptada a diferentes condições de cultivo.
Robusta Vietnamita
Seleções desenvolvidas no Vietnã, maior produtor mundial de Robusta. Adaptadas ao clima tropical úmido.
Híbridos e Variedades Resistentes
O Híbrido de Timor revolucionou o desenvolvimento de variedades resistentes:
Híbrido de Timor
Um cruzamento espontâneo entre C. canephora (Robusta) e C. arabica var. Typica que ocorreu naturalmente na ilha de Timor no Sudeste Asiático. Estes híbridos "Arabusta" provavelmente se originaram de uma única planta parental Robusta. Tornou-se popular em Timor nos anos 1950 devido à sua resistência natural à ferrugem. Coletado em Timor em 1978 e plantado nas ilhas de Sumatra e Flores logo depois.
Catimor
Grupo de cultivares originados do cruzamento entre Híbrido de Timor e Caturra. Distribuído desde os anos 1980, é altamente produtivo e mostra resistência à ferrugem e à doença da cereja do café (CBD). Uma das primeiras variedades Catimor amplamente disponíveis foi a CR (Costa Rica) 95, lançada por volta de 1995.
Colombia
Cultivar desenvolvido pela mistura de vários Catimors, lançado por volta de 1985. Possui resistência à ferrugem, mas devido à sua composição genética, é relativamente instável como cultivar consistente. Na Colômbia, tem sido popular substituí-lo pelo Castillo.
Sarchimor
Grupo de cultivares originados do cruzamento entre Villa Sarchi e Híbrido de Timor. Linhagens como IAPAR 59, Tupi e Obata mostram boa resistência à ferrugem; algumas também são resistentes à CBD.
Identificação por Região
Algumas variedades são características de regiões específicas:
O Futuro do Café e as Mudanças Climáticas
As mudanças climáticas representam um desafio significativo para a produção global de café, especialmente para o Arabica. Estudos indicam que, mantidas as condições atuais, a área tradicional adequada para o cultivo do café poderá ser reduzida pela metade nas próximas três décadas.
Impactos Previstos
- • Redução de mais de 50% das áreas propícias ao cultivo do Arabica até 2080
- • Risco de extinção do café selvagem nas próximas décadas
- • Aumento da pressão de pragas e doenças
Adaptações Possíveis
- • Maior utilização do Robusta em áreas mais quentes
- • Desenvolvimento de variedades mais resistentes
- • Adoção de práticas agrícolas sustentáveis
O Robusta surge como uma alternativa promissora devido à sua maior resistência a temperaturas elevadas e menor suscetibilidade a pragas. No entanto, esta não é uma solução definitiva, pois o Robusta também possui seus limites de tolerância climática e características sensoriais distintas que podem não atender todos os mercados.
O futuro da produção de café dependerá da combinação de pesquisa científica, desenvolvimento de variedades adaptadas e práticas sustentáveis de cultivo. A preservação da diversidade genética e o investimento em tecnologias de adaptação serão cruciais para manter a viabilidade da cafeicultura global.